[O Jogo] Entrevista de José Mourinho
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[O Jogo] Entrevista de José Mourinho
Perdurando ainda os efeitos da atribuição da Bola de Ouro da FIFA, consequência da excepcional tripleta obtida pelo Inter de Milão, é na Cidade Desportiva do Real Madrid que José Mourinho recebe O JOGO. No final de um treino e após mais uma conferência de Imprensa duríssima - ou não estivesse no auge o desencontro de opiniões públicas com Jorge Valdano sobre a (não) contratação de um 9 para o Real Madrid -, José Mourinho tenta ao máximo desligar-se desse cone de fogo. Sabe ao que vamos. É simpático no aperto de mão. Disponibiliza-se para responder a tudo. Vestido com o facto de treino de um emblema supermediático - como ele -, um registo dócil nas perguntas seria razão para José Mourinho estranhar. A opção, por isso, foi a de espicaçá-lo. O resultado, claro, não poderia ser outro: clarividência nas respostas e os subentendidos próprios de algo em que é também especial - estratégia.
O JOGO titulou-o de "O Maior" e "Dono da Bola" em dois momentos determinantes: na conquista da Liga dos Campeões pelo Inter de Milão e na consagração da Bola de Ouro. Essas duas primeiras páginas dizem muito. Caracterizam a ideia geral de excelência. Só que também falha. Ou parece falhar. Porquê? Não acertou na previsão de que seria preterido na atribuição da Bola de Ouro em favor de Vicente del Bosque ou Pep Guardiola. A FIFA atribuiu-lhe o prémio - mais do que justo!
Eu também acho que é justo!, mas não foi a FIFA a decidir atribuir-me o prémio; a distinção resultou do somatório de votos de várias origens. Votaram treinadores, jogadores e jornalistas e, como eu previa, tive poucos votos atribuídos pelos treinadores. Ganhei com os votos que me foram concedidos pelos jogadores e pelos representantes da Imprensa desportiva. Portanto, não me enganei na totalidade. Julguei que os votos atribuídos pelos jogadores não fossem suficientes para ganhar…
Os jogadores, como sempre, são o essencial no futebol, e está para aparecer o primeiro que não o aprecie. É um sintoma positivo de reconhecimento da qualidade da sua liderança?
Tenho de facto um respeito grande pelos jogadores - não só pelos meus, mas também por todos os outros. Como sempre afirmei, sem jogadores que querem e que podem não somos capazes de ganhar. E sem adversários grandes, fortes, dignos, também é difícil que se sinta grande mérito e consequente satisfação na hora das vitórias. O meu percurso tem sido sempre feito com este grande respeito pelo jogadores de futebol, sejam eles os que lutaram e lutam por mim, sejam aqueles contra quem dignamente lutamos como profissionais do mesmo ofício, da mesma indústria.
Na gala da FIFA de atribuição da Bola de Ouro, assumiu-se como um português de corpo inteiro, inclusive não abdicando de falar em português na hora dos agradecimentos. "Orgulhoso português", foi como se autodefiniu - e o País, naturalmente, rejubilou com a sua postura. Não há muitos meses, no entanto, concedeu uma entrevista a uma publicação espanhola na qual se mostrava de alguma maneira sentido com o País - ou uma parte dele - e não teve dúvidas em considerar que o seu futuro passará pelo estrangeiro. Não há aqui uma contradição?
Não. Com o País, nunca me senti… sentido. Sempre tive o carinho do que carinhosamente gosto de chamar "o povão" - aquele com o qual, quando vou a Portugal, me encontro na rua, na praia, numa praça, quando vamos fazer compras, ou num simples passeio por um "shopping". Do povão que encontro, sempre recebi manifestações de carinho. Da parte do poder político, seja de que quadrantes for, todos quantos têm ou tiveram cargos de responsabilidade, ou no poder local da minha cidade [Setúbal] ou mesmo a nível nacional, foram sempre extremamente carinhosos comigo - ao ponto de me atribuírem diferentes tipos de galardões e de reconhecimento.
Seja! Mas descarta viver em Portugal?!
Viver em Portugal, não. Já vivo fora há muito tempo. Os meus filhos têm outro tipo de projectos de vida; eu e a minha mulher temos neles a maior preocupação, os estudos deles foram feitos maioritariamente fora de Portugal. A formação académica deles tem sido feita sempre no estrangeiro - e vai continuar a sê-lo. Talvez por isso estejamos muito mais inclinados a que a nossa vida seja fora de Portugal. Mas pronto, não quer dizer que, um dia, eu e a minha mulher não regressemos definitivamente a Portugal; quando os filhos tiverem a sua independência, o seu trajecto, e já tenham realizado as escolhas que nós queremos que eles tenham capacidade para fazer.
Ao assinar contrato de quatro anos pelo Real Madrid, enunciou como desafio e grande objectivo próximo a conquista de uma espécie de Grand Slam, não conquistado até agora por qualquer treinador: depois de títulos em Inglaterra e Itália, obter também a consagração em Espanha. Está difícil neste primeiro ano…
Está difícil para nós como está difícil para os outros. Há uns campeonatos que são mais fáceis do que outros; há campeonatos onde as equipas perdem muitos mais pontos, onde há muito menos jogos - exemplos, os de 16, 18 ou 20 equipas. E há campeonatos onde, ao fim da primeira volta, uma equipa com 48 pontos seria a superlíder. E é uma realidade também a existência de outros, como o de Espanha, onde uma equipa com 48 pontos [caso do Real Madrid, agora com 51 pontos ao cabo da 20ª ronda, menos quatro do que o Barcelona] não é líder, está em segundo lugar. É um dado objectivo: uma equipa que obtém 15 vitórias, três empates e averba uma só derrota não é líder ao fim da primeira volta. Estamos a competir com uma equipa [Barcelona] que é, como lhe chamo, um produto acabado. Um produto de muitos anos de trabalho com a mesma filosofia, a mesma ideia de jogo, dispondo de jogadores formados, lubrificados e aperfeiçoados na mesma oficina. Não me parece, portanto, que seja cómodo e fácil chegar aqui e ganhar o campeonato num abrir e fechar de olhos. Só que eu preciso de desafios, de dificuldades que me motivem. A questão é esta: depois de ganhar seis campeonatos em três países diferentes - principalmente em Inglaterra e em Itália -, porque não tentar aqui em Espanha, não obstante saber da existência de uma realidade que é complicada, difícil?
Deduzo das suas afirmações que o grande problema acaba por ser a qualidade manifestada pelo Barcelona. Ou seja: o Barcelona joga de mais?
O Barcelona joga muito, e o Real Madrid também. O Barcelona joga melhor porque tem mais quatro pontos e porque goleou o Real Madrid. Mas, repito, 20 jogos de campeonato, 16 vitórias, três empates e só uma derrota é uma marca boa, ainda por cima se esta marca for acompanhada na análise por um outro dado nada desprezível: o Real Madrid tem o registo de melhor equipa esta época na Champions League. O Real Madrid foi a única equipa que conseguiu fazer 16 pontos nos 18 pontos possíveis da fase de grupos. E a estas "performances" deve ainda juntar-se a presença garantida nos quartos-de-final da Taça do Rei. O Real está a fazer uma época muito boa.
"Há défices de empatia funcional no Real Madrid"
Seja como for, disponível para novos reptos, até pelas características muito próprias de que dispõe, pode considerar-se ser o Real Madrid o grande desafio da sua vida? O Real Madrid é um clube de enormíssimo impacto mediático, pressionante, onde quase todos os dias se procuram descobrir factores desestabilizadores…
Sempre tive coisas difíceis para fazer. O Real Madrid é um desafio difícil porque, na minha opinião de observador - apesar de viver o clube por dentro há meia dúzia de meses, continuo a ser um observador -, é um clube que não está estruturado para a dimensão de que dispõe…
Há défices de organização no Real Madrid?
Digo que há défices na empatia funcional. Para mim, num clube devem trabalhar todos com o mesmo objectivo - não digo com empatia na acepção da palavra, pois essa pode haver ou não, tem de existir é nas famílias, em que temos de nos dar bem e gostar uns dos outros… Essa é a empatia nua e crua, que tem que ver com as pessoas; refiro-me, neste caso, a um outro tipo de empatia, a funcional, a que tem de existir para o sucesso de uma grande empresa, um grande clube, a todos os níveis do mundo empresarial.
Vai ganhar essa batalha? Vai conseguir institucionalizar padrões de solidariedade transversais a todo o Real Madrid?Não sei. Não sei. Não sei se vou. No futebol, tenho ganho sempre as minhas batalhas, entre aspas, com todo o respeito e todo o carinho, contra o inimigo do exterior, isto é, ultrapassando as dificuldades postas pelos adversários. Já não sei se vou conseguir ganhar as batalhas da empatia interna. Vamos ver.
A comunicação social dá conta quase todos os dias de um clima de crispação no Real Madrid. Pergunto-lhe sem rodeios: há alguma guerra surda entre si e o director-geral, Jorge Valdano? Fazem sentido críticas como as que ainda há dias foram plasmadas no jornal "Marca", segundo as quais José Mourinho só tem contrato como treinador, mas pretende extravasar essas funções e assumir-se como "manager"?
Não tenho guerras surdas com ninguém.
O vice-versa é verdadeiro?
Não sei, tem de perguntar a outros… Insisto: não tenho guerras surdas com ninguém. O que tenho a dizer, digo sempre. E as minhas guerras, quando existem, são guerras abertas e declaradas. Guerras surdas comigo não existem.
Não há um braço-de-ferro latente?
Não. É como lhe digo: não tenho guerras surdas.
A liga espanhola, é o primeiro a reconhecê-lo, está difícil. O que suscita uma questão: qual é o grande objectivo? A Taça do Rei está em aberto e a Champions, claro, a Champions é sempre uma possibilidade. Já este ano?
É, tenho de ir um bocado por aí. Lembro-me de que, em Gelsenkirchen, após a vitória do FC Porto, disse que era demasiado jovem para não querer ganhar uma segunda Champions. A verdade é que a segunda Champions chegou meia dúzia de anos mais tarde. Agora que ganhei a segunda, continuo a dizer que, como treinador, sou demasiadamente jovem para dizer: "OK, já chega, estou contente e não quero mais." Vou ver se é possível conseguir uma terceira.
Já este ano?
Pode ser, pode ser. Ganhei a Champions na minha segunda época no FC Porto, ganhei pelo Inter também na minha segunda época. Acho que a segunda época é a mais propícia. A primeira época é sempre também uma época de adaptação, de métodos e de conhecimento em profundidade e de criação de condições para que uma equipa seja melhor. Mas estamos nos oitavos-de-final - uma barreira quase intransponível para o Real Madrid na última década - e vamos ter pela frente um adversário que também parece intransponível [o Real, em quatro vezes que defrontou o Lyon, não conseguiu ganhar um único jogo]. Pois bem: se conseguirmos passar a barreira Lyon, estaremos nos quartos-de-final e podemos ir até ao fim!
O Real Madrid, disse-mo há pouco, está a corresponder ao que terá idealizado no início da época? Cristiano Ronaldo, sobretudo, está a realizar uma temporada a todos os títulos excepcional, e a verdade é que esse facto incontroverso levanta uma dúvida: o Real de Madrid não vive manifestamente em… Ronaldodependência?
Não, de maneira nenhuma. A verdade é que estamos numa equipa em que, no ano passado, Ronaldo e Higuaín marcaram exactamente o mesmo número de golos. A diferença é que este ano não existe Higuaín.
Houve um erro de avaliação que levou à actual situação?
Não. O jogador [Higuaín] lesionou-se; teve uma hérnia discal, viu-se na contingência de ser operado. Não existe Higuaín - e é evidente que não há culpa de ninguém. Insisto: o ano passado, o Cristiano e o Higuaín mantiveram uma capacidade goleadora muito semelhante até ao final da época. Neste momento, quantos golos tem o Cristiano no campeonato?
Vinte e dois.
Pois. O Benzema tem dois.
Daí a tal questão que marca - e de que maneira! - a conjuntura do Real Madrid: a ausência de um 9 para suprir a baixa de Higuaín. A questão existe mesmo ou é mero cenário levantado todos os dias na comunicação social?
Então não existe? Só temos um!
Mas há divergências noticiadas entre o que são os seus desejos e a capacidade de resposta do estado-maior do Real Madrid, com Jorge Valdano à cabeça…
Não sei se há divergências ou não. Falo por mim.
Quer mesmo um 9?
Eu? Quero um 9 desde Agosto. O Higuaín está lesionado.
E está à vontade para o pedir?
Estou à vontade para o pedir, e o clube está à vontade para não mo dar. É fácil.
Até ao final do mercado de Inverno, pensa ter esse jogador?
Se tiver, tenho; se não tiver, não tenho. É fácil.
[Ao fim do dia de ontem fechou-se este capítulo. Adebayor, do City, chega a Madrid por empréstimo]
Pois. Mas há uma guerra latente. E aqui entre nós, como é que a observa? É um provocador…
Porquê?
Porque vai fazendo declarações a que muita gente não está habituada - e que não têm apenas que ver com a questão do 9. Lança farpas em várias direcções, do comportamento dos adversários ao papel desempenhado pelos árbitros…
Ah!, esse é que é o problema. Não sou eu que sou provocador; o mundo é que é hipócrita.
Dá-lhe um certo gozo?
Não me dá gozo nenhum. Dá-me tristeza verificar que as pessoas não têm capacidade para serem verdadeiras, preferindo não ver as coisas e optando por se esconderem atrás do que é politicamente correcto. O que me faz ficar maldisposto é verificar a existência de pessoas que são pagas principescamente para trabalhar para os clubes e que acabam por colocar os seus interesses pessoais e a sua própria imagem à frente dos interesses do clube, daqueles que nos pagam - os adeptos, aqueles que querem que as coisas corram bem.
Essa sua postura acaba por transformá-lo num coleccionador de inimigos. Dá-lhe prazer?
Não. Então você não viu, quando ganhei a Bola de Ouro? Podia perfeitamente ter dedicado a vitória aos inimigos, e nem me lembrei deles. Lembrei-me dos jogadores, dos colaboradores, da mulher, dos filhos, das pessoas de quem gosto, dos meus amigos, e nem sequer me lembrei deles. Podia ter feito um discurso aos inimigos - e não fiz.
José Mourinho é um coleccionador imparável de sucessos. Não obstante o reconhecimento mundial desse facto, não foge a duas definições: pragmático e resultadista. O que leva vários analistas a considerar a séria hipótese de que ficará na história do futebol pelos títulos conquistados, mas não por uma marca-d'água, chamemos-lhe assim, das suas equipas.
Confrontado com este cenário, isto é, se algum dia abrirá mão da primazia ao pragmatismo em favor de uma concepção de jogo com a sua assinatura, José Mourinho é… objectivo:
"Sim, é verdade, sou um pragmático. Simplesmente não estou de acordo com os que dizem que as minhas equipas não jogam bem."
As múltiplas dificuldades já atravessadas para a conquista de campeonatos em Portugal, Inglaterra e Itália levá-lo-ão com certeza a saber aferir as dificuldades.
Ganhar o campeonato no FC Porto é fácil.
É fácil?
É. É. Basta construir uma boa equipa e ter bons jogadores. A estrutura é muito boa, o clube é muito solidário, dá condições óptimas para que se tenha o objectivo de ganhar. Ganhar o campeonato no FC Porto é fácil, e digo-o por uma simples razão: fomos muitos a ganhá-lo. Foram tão poucos a não ganhar que temos de ser forçados a dizer que ganhar o campeonato no FC Porto é fácil. Já ganhar a Champions no FC Porto é difícil. E eu ganhei, como o sr. Artur Jorge também ganhou antes de mim. O campeonato inglês é, por natureza, muito difícil. De tal maneira difícil que o Chelsea não o ganhava há 50 anos - e nós ganhámo-lo. Conquistar a Champions no Inter também é difícil, embora outro tanto não se passe relativamente ao campeonato, ganho por alguns, principalmente pela última geração Mancini. A provar a dificuldade de conquista da Champions pelo Inter de Milão, basta recordar que o presidente Moratti era um jovem adolescente, filho do presidente de então, quando o troféu foi conquistado pela primeira vez e agora, quando a voltámos a ganhar, é avô.
Em recente entrevista a O JOGO, Pinto da Costa destacou a sua última época ao serviço do Inter de Milão como a mais perfeita. Conhecendo-se ambos tão bem, dá razão à leitura de Pinto da Costa sobre o mérito reforçado que terá tido a conquista da tripleta pelo Inter de Milão?
Se calhar, Pinto da Costa di-lo por ter sido a verdadeira tripla. Já tinha feito triplas anteriores, mas nunca a verdadeira. No FC Porto, ganhámos campeonato, Taça e Taça UEFA; no ano seguinte, campeonato, Champions e Supertaça; mas a verdadeira tripleta, como se chama por aí, é a conquista de campeonato, Taça e Champions - algo que só no Inter consegui, com uma equipa que não era favorita na Europa e teve de ultrapassar os dois grandes favoritos à vitória na Champions o ano passado, que eram o Chelsea e o Barcelona. Se calhar, o presidente tem razão. Foi um feito.
Continuam a ter contacto?
Pouco. Em momentos esporádicos. Mas sempre com a gratidão de ter sido um grande presidente nos dois anos e meio que estive no FC Porto.
Dos presidentes que já conheceu até hoje, como classifica Pinto da Costa, estando agora num clube que tem uma referência histórica indelével - Santiago Bernabéu?
Enquanto estive no Porto, foi o presidente perfeito para mim…
Tem seguido o campeonato português?
Pouco. Pouco.
É um campeonato de segunda linha na Europa. Mas tem condições para poder vir a ter um outro impacto?
Normalmente, as equipas portuguesas, quando chegam às competições europeias, tendo em conta a realidade dos clubes e do País, fazem bem. Quer na Champions quer na Liga Europa. Por regra, quando ultrapassam a fase de grupos chegam a fases adiantadas das competições. A cada quatro cinco anos, de uma forma cíclica, uma equipa portuguesa tem um ponto alto nas competições europeias. O Benfica nos anos 60, a seguir o FC Porto nos anos 80, depois nos anos 2000, também com o Sporting na final da Taça UEFA. Portanto: ciclicamente, as equipas portuguesas fazem bem nas competições europeias. Já o campeonato, para as pessoas que vivem fora - e posso dizê-lo porque já vivo no estrangeiro há muito tempo -, é um campeonato que chega pouco.
Está decidido o campeonato português, nesta altura?
É um campeonato pequenino, só tem 16 equipas. Uma volta são 15 jogos - não tem 20 equipas, com uma volta de 19. Com uma vantagem de oito pontos e só faltando 14 jogos, seria negativamente histórico para o FC Porto perder o campeonato; ao contrário, seria positivamente histórico para o Benfica conquistá-lo, o que não me parece que vá acontecer. Mas… dentro de uma linha de pragmatismo e de respeito por tudo e por todos, matematicamente o campeonato português está aberto.
André Villas-Boas, o treinador do FC Porto, pela boa época que está a fazer, foi um seu bom aluno?
Face à época que está a fazer… está a fazer bem. Não quero dizer nada mais.
Quem segue de perto a vivência de José Mourinho fica com uma ideia nítida: a de que o futebol faz o exclusivo da sua vida. Será assim?
José Mourinho esclarece, mas com um dado implícito: a mediatização excessiva, a impossibilidade de frequentar locais públicos na maior parte do planeta (nos Estados Unidos, vá lá, já que até em África não o deixam respirar…), é algo que o começa a fatigar. E, assim como assim, sobra a (relativa) fleuma britânica…
Pensa futebol, respira futebol. Há outras áreas da sociedade que lhe despertem interesse?
Família. Não tenho tempo para muito mais.
Política, não? Pintura? Eu sei lá…
Posso comprar o meu quadro, o meu relógio, ver um filmezito, mas basicamente dedico-me à minha família. Tento, no fundo, viver a vida o melhor possível. O futebol tem-me dado muito, principalmente orgulho nas coisas que tenho feito, mas também me tirou muitas coisas. Uma das coisas que me tirou foi a normalidade da vida que quero para mim e para os meus.
Está proibido de andar na rua?
Estou. Basicamente estou.
De tempos a tempos, para mais agora que está aberto o mercado de transferências, comenta-se a possibilidade de transferência de jogadores do futebol português para o Real Madrid. Tem uma listagem de jogadores observados pelo Real Madrid em Portugal e com prioridade de contratação?
Não, não tenho. Fazemos a observação normal, de quem acompanha mais ou menos o campeonato português, dispondo em Portugal de pessoas que me podem alertar para algum jogador que esteja a viver um momento de ascensão, mas não estou propriamente fixado nem no futebol português nem em qualquer jogador. É evidente, no entanto, que o futebol português sempre produz talentos, sejam eles jogadores portugueses ou jovens, normalmente sul-americanos, que chegam a Portugal e demonstram capacidade. Razões que justificam que o futebol português seja sempre um alvo para quem quer controlar mercados.
Pode ser um mercado a ter em conta ainda neste mês de Janeiro? Ou para a próxima época?
Para o mercado de Janeiro, de certeza que não. A próxima época ainda vem longe. Seja como for, o Real Madrid não tem muitas necessidades.
Não obstante o sucesso obtido em Itália e as expectativas abertas para idêntico desenlace em Espanha, José Mourinho nunca escondeu alguma nostalgia pelos tempos vividos na Grã-Bretanha - e não, certamente, pelos famosos copos de vinho degustados em conjunto com Alex Ferguson no final dos duelos Chelsea-Manchester United. Daí que…
Quer voltar a Inglaterra?
Quero, é destino obrigatório.
É o campeonato mais espectacular?
Não sei se é o mais espectacular; não tenho é dúvidas de que é aquele que dispõe de melhor organização, com mais fair play e respeito entre todos, e está envolto numa vida social melhor, porque mais tranquila, para todos. É de facto destino obrigatório para mim.
Não há é muitas escolhas possíveis. Manchester United, Manchester City, regresso ao Chelsea, o quê?
Não, não tenho nada engatilhado. O que tenho na cabeça é o objectivo de tentar ser o mais feliz possível. De todos os países onde trabalhei e onde vivi, o país onde mais gostei de estar foi em Inglaterra, no Chelsea…
Mas que rebuliço provocou! Em Inglaterra como em Itália e agora em Espanha…
Isso não interessa. O que me interessa é eu ser o mais feliz possível. E foi em Inglaterra que tal aconteceu. E é lá que tenho de voltar.
É o futebol inglês o mais espectacular?
Não, não, não é por isso. Não é o mais espectacular. O futebol italiano tem uma imagem que não corresponde à realidade. O futebol italiano, sim, é muito mais espectacular do que as pessoas pensam; os jogos são equilibradíssimos, o lado táctico é fantástico para quem percebe de futebol. O futebol italiano dispõe de um grandíssimo campeonato. Não posso dizer o mesmo de Inglaterra, mas o que sei é que se trata do sítio onde fui mais feliz e é aquele onde vou voltar um dia.
Se é assim, e depois do episódio da hipótese de ter sido seleccionador nacional por dois jogos, esse projecto da Selecção fica adiado. Está com 48 anos de idade, quer voltar a Inglaterra, logo… a Selecção só surgirá bem mais tarde, como uma espécie de reforma dourada?
Neste momento, a Selecção não precisa de mim. Outra vez. Está bem entregue, as coisas estão a correr bem, a qualificação está à vista…
Está bem. Faz consultadoria…
Não, qual quê! Não faço consultadoria nenhuma. Só se mandar um SMS a desejar boa sorte é consultadoria. Não faço mais nada do que isso. A Selecção não precisa de mim, repito, e um dia que precise, eu tentarei outra vez estar disponível. Mas no final da minha carreira, quando eu achar que já chega de clubes, é a selecção portuguesa que eu quero treinar, então sim, de forma global, em full-time, com total dedicação e sem nenhum tipo de impedimento.
dekap- Lenda Viva
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Re: [O Jogo] Entrevista de José Mourinho
Neste momento, quantos golos tem o Cristiano no campeonato?
Vinte e dois.
Pois. O Benzema tem dois.
Vinte e dois.
Pois. O Benzema tem dois.
dekap- Lenda Viva
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Daniel Novo- Lenda Viva
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Re: [O Jogo] Entrevista de José Mourinho
Quer voltar a Inglaterra?
Quero, é destino obrigatório.
Old Trafford espera-te
Quero, é destino obrigatório.
Old Trafford espera-te
famaboys- Moderador
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Re: [O Jogo] Entrevista de José Mourinho
E se for para White Hart Lane?
baseado- Lenda Viva
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Re: [O Jogo] Entrevista de José Mourinho
baseado escreveu:E se for para White Hart Lane?
Rui Cardoso- Lenda Viva
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Re: [O Jogo] Entrevista de José Mourinho
O Harry pode não ficar para sempre.
baseado- Lenda Viva
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Re: [O Jogo] Entrevista de José Mourinho
sinceramente o tipo de futebol do Mourinho ia ter muitas dificuldades em conquistar os adeptos tanto no Tottenham como, por exemplo, no Arsenal.
Rui Cardoso- Lenda Viva
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