Selecção Nacional

Campeões Mundiais de 1991 homenageados, mas com críticas à FPF


Alguns dos jogadores portugueses campeões do Mundo de sub-20 em 1991 deixaram hoje críticas à Federação Portuguesa de Futebol (FPF), a dois dias de um jogo de comemoração do 20.º aniversário do título conquistado em Lisboa.

Na quarta-feira, a equipa de 1991 vai defrontar o conjunto que ergueu o cetro Mundial em 1989, no Estádio Nacional, em Oeiras, numa partida organizada pelos veteranos do Sporting.

Em Alvalade, na apresentação deste jogo, Abel Xavier disse que "é gratificante que haja consciência e as pessoas de bem possam fazer algo para não deixar esquecer tudo o que de bom foi feito na formação", lamentando a ausência da FPF.

"Gostaria que a Federação estivesse presente, porque isso também é muito importante para a imagem do nosso futebol português", afirmou Abel Xavier, que disse achar que a FPF "apenas deu as camisolas".

Para o antigo futebolista, "tem havido um distanciamento enorme entre as duas gerações e a FPF", apelando que "as questões pessoais não transcendam tudo o que se faz em prol da camisola da seleção nacional".

"Já fizemos 10 anos e vamos fazer 20 anos e não tivemos uma celebração. Esta mensagem deveria ter sido feita de forma institucional e através da FPF. Não estou a mencionar nomes, estou apenas a dar o meu ponto de vista sobre uma constatação de um facto", sublinhou.

O antigo avançado Gil considerou que este afastamento está relacionado com o facto de ter sido Carlos Queiroz a vencer os dois campeonatos, lembrando que "seria bom a Federação estar presente" como uma forma de passar testemunho entre as equipas campeãs do Mundo e a que vai disputar o Mundial este ano.

"O Abel (Xavier) não foi directo em citar nomes, mas penso que isto tudo passa pelos títulos terem sido conquistados pelo professor Carlos Queiroz. E toda esta guerra entre a Federação e Carlos Queiroz estar a ditar o afastamento dos campeões do Mundo", referiu.

Único representante da geração de 1989, que venceu o Mundial na Arábia Saudita, Amaral lembrou que "há dois anos se passou a mesma coisa" e que "20 anos depois era importante que não houvesse pessoas a tentar passar ao lado" desta comemoração.

"É importante tentarmos fazer uma festa bonita. Estas duas gerações abriram muitas portas às gerações seguintes. É importante não deixar passar estas datas", salientou.

Amaral deixou ainda um pedido a "algumas figuras da seleção de 1991 para estarem presentes", porque o título "não é de 12 ou 13 é de 18".

O encontro entre as duas equipas vai realizar-se na quarta-feira no Estádio Nacional, às 19:00, com entrada livre, sendo que uma hora antes vai haver um encontro entre veteranos do Sporting e os funcionários do clube.

A lotaria não deu para todos

Quando Rui Costa trepou as redes das bancadas do Estádio da Luz, a festejar o sucesso do penálti que acabara de dar a Portugal o segundo título mundial de juniores consecutivo, 17 jogadores correram atrás dele. Naquele fim de tarde do dia 30 de Junho de 1991, todos os elementos daquela equipa de campeões eram iguais. Pelo menos na ambição e nas expectativas. Mas para alguns foi o início um trajecto feito de desilusões. "É a lei da vida", comenta agora Tulipa, 20 anos depois daquele Portugal-Brasil presenciado ao vivo por 127 mil espectadores.

Se a lotaria dos penáltis sorriu a todos, a da vida apenas a alguns. É que nem todos tiveram sorte. O que mais se pode queixar é Luís Miguel, extremo-esquerdo que chegou ao Mundial com uma lesão, contraída pouco tempo antes num jogo amigável frente à França, da qual nunca chegou a recuperar. "Deixei de jogar aos 27 anos. Comecei a trabalhar no sector da cortiça, mas a empresa onde trabalhava faliu e estou há dois anos a viver do fundo do desemprego", conta. "Desde que cheguei ao FC Porto, aos 14 anos, que alimentava o sonho de vir a ser um grande jogador. Pensava num futuro muito mais risonho para mim, mas o destino foi assim", diz, resignado.

Também o ponta-de-lança Toni vive dias bem mais complicados do que alguns dos ex-colegas de equipa. Em 2003 emigrou para o Luxemburgo, alinhando as duas últimas épocas da carreira no RM Hamm Benfica. Depois disso, quando as pernas deixaram de obedecer, restou-lhe a força dos braços para ganhar a vida. Hoje, é operário da construção civil naquele pequeno país do centro da Europa.

O outro lado da medalha é de glória. A começar pela de Figo, que viria a ser premiado pela FIFA com o título de melhor jogador do mundo, em 2001. Foi o ponto mais alto de uma carreira que lhe permitiu alinhar em três dos maiores clubes da história: Barcelona, Real Madrid e Inter de Milão. Actualmente, é embaixador dos italianos.

Jogadores de excepção, Rui Costa e João Vieira Pinto tiveram igualmente uma dimensão à parte, enquanto nomes como Jorge Costa, Capucho ou Abel Xavier construíram carreiras brilhantes a nível de clubes e na principal Selecção. Mais longe do estrelato, jogadores como Rui Bento, Peixe, Nélson ou Tulipa também merecem destaque. "Outros de nós podiam ter tido grandes carreiras no futebol, mas nem todos podem ser jogadores de elite. A alguns terá também faltado mais discernimento na gestão das carreiras. As decisões que cada um vai tomando é que determinam muitas vezes a sua sorte", considera Tulipa.

Campeões sentem que a Federação se esqueceu deles


Falta que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) se associe aos feitos dos campeões mundiais de sub-20 em 1989 e 1991. Protagonistas como Abel Xavier, Gil e Amaral estiveram ontem em Alvalade, na conferência de apresentação do desafio, e deram voz a tal sentimento, chegando mesmo a encontrar uma ligação ao litígio entre Carlos Queiroz e a FPF.

Abel Xavier foi quem mais verbalizou o tema, confiando: "Há pessoas que esquecem o muito que foi conquistado, e falo a nível da FPF. Infelizmente há muito egocentrismo no nosso futebol." Sem mencionar nomes, o ex-jogador campeão no Benfica e com largo percurso internacional sustentou que os tributos prestados às gerações em questão deveriam sempre ter a chancela do organismo presidido por Gilberto Madail. "Não pessoalizo a questão nem alimento polémicas, mas há um distanciamento entre a FPF e estas duas gerações. Há questões pessoais que deviam ser ultrapassadas. A FPF devia estar connosco, este jogo devia ser organizado por uma via mais institucional", lastimou Abel Xavier, logo secundado por Gil, que foi mais além e ligou a distância a outras questões: "O Abel [Xavier] não citou nomes, mas penso que tudo isto passa pelos títulos terem sido conquistados pelo professor Carlos Queiroz. Toda esta guerra dita o afastamento para connosco."

Amaral afirmou que "há dois anos passou o mesmo", quando a FPF nada fez por ocasião dos 20 anos da primeira conquista mundial dos nossos seleccionados. Xavier voltou a falar e acentuou: "O futebol é aproveitado para defender causas nobres, portanto espero que sirva um bom propósito neste caso. A consciência de algumas pessoas deve estar a abanar. Passaram dez anos e 20 anos sobre essas conquistas e não houve um evento de envergadura ao nível da FPF. Que ao menos compareçam ao jogo."

Duas gerações a medir forças no Estádio Nacional

Manuel Quaresma, secretário-geral da FPF, não chegou a conseguir ajudar Gil a concretizar o sonho de organizar um jogo entre os campeões mundiais de Riade, em 1989, e os de Lisboa, em 1991. "Ainda tenho guardada a carta que ele me enviou pouco tempo antes de falecer, a dizer que ia começar a contactar os jogadores", conta agora o avançado que ajudou a conquistar o segundo dos troféus. Quanto ao sonho, faltam poucos dias para ser colocado em prática: é já na próxima quarta-feira, dia 22, às 18h00, no Estádio do Jamor, que as duas gerações vão medir forças. "Não posso jogar, porque fui operado ao menisco e ao ligamento anterior cruzado do joelho direito. Foi num jogo de futebol de salão com amigos", lamenta Jorge Couto.

Presentes vão estar nomes Toni, Bizarro, Figo, Paulo Madeira, Rui Bento, Tó Ferreira, João Vieira Pinto, Tulipa, Cau ou Luís Miguel. Este último, que pesa "mais de 120 quilos", diz que só consegue jogar alguns minutos: "Vou jogar nem que seja dez minutos. É fantástico, quanto mais não seja para recordar histórias. Na altura éramos uma família." Além disso, há também o objectivo de reunir fundos para alguns dos campeões que vivem com dificuldades financeiras, conforme explica Gil: "Prefiro não citar nomes, mas há campeões do mundo que precisam de ajuda. Alguns estão bem na vida, outros são remediados e há alguns que não estão nada bem."


Nova geração procura regressar à glória na Colômbia

Colocar Bogotá no mesmo plano de Riade e Lisboa não é um objectivo assumido pelo grupo que, dia 29 de Julho, inicia a oitava participação de Portugal num Mundial de sub-20. "Não vou falar em conquistar o título mundial. Tenho que ter uma postura realista, por isso seria imprudente falar em ganhar o campeonato", afirma Ilídio Vale, seleccionador da categoria, a O JOGO. Comparações com as selecções orientadas em, 1989 e 1991 por Carlos Queiroz, é que não podem ser muitas. "Não é possível comparar. Só na atitude competitiva, aí há semelhanças. Mas seria uma honra prestigiar essa geração. É difícil, mas também temos consciência de que é possível." Além das duas vitórias em Riade e Lisboa, os lusos chegaram aos quartos-de-final em 1979, às meias-finais em 1995 e aos oitavos em 1999.

O que fazem os 18 campeões de 1991

Tó Ferreira [guarda-redes]

Ainda joga no Boavista

Caso raro de longevidade, ainda não decidiu se vai colocar fim à carreira de jogador... esta época. Famalicão, Beira-Mar e Aves foram alguns dos 14 clubes que representou, defendendo na última temporada as redes do Boavista.


Nélson [lateral-direito]

Ligado a uma Academia

Esteve cinco épocas no Sporting, transferindo-se a seguir para o Aston Villa. Jogou ainda no FC Porto e no Setúbal, terminando no Rio Tinto, clube de que acabou por ser presidente. Actualmente, está ligado à Academia de Futebol Superball, em Vila Nova de Gaia.


Rui Costa [médio-ofensivo]

Director-desportivo do Benfica

Dedicou-se de alma e coração a dois clubes: num deles, a Fiorentina, ainda hoje é considerado como um "deus". No outro, o Benfica, é director-desportivo. Pelo meio, ganhou títulos italianos e europeus ao serviço do Milan.


Capucho [extremo-direito]

Treinador nas camadas jovens do FC Porto

Quase sempre o 12º jogador no Mundial, teve uma carreira de sucesso no futebol português, brilhando no Sporting e mais tarde no FC Porto. Os azuis e brancos apostaram nele para uma carreira de treinador que entra agora na sua quinta temporada. É apontado como


João Oliveira Pinto [extremo-esquerdo]

Agente imobiliário

João Pinto II alinhou em emblemas como o Braga ou o Guimarães, mas entrou no futebol amador depois dos 30, terminando a carreira no Arrifanense, já em 2009/10. Actualmente trabalha por conta própria, na mediação imobiliária.sucessor de Pedro Emanuel na equipa técnica da equipa principal.


Tulipa [médio-ofensivo]

Treinador do Covilhã

Era um médio criativo e talentoso, mas nunca conseguiu dar o salto para um grande. Deixou de jogar após duas épocas no Vilanovense e vai agora para a sua sétima temporada como treinador. Após Ovarense, Ribeirão, Estoril, Trofense e Chaves, pegou a meio da última época no Covilhã, onde irá continuar.


Luís Miguel [extremo-esquerdo]

Fundo de desemprego

Contraiu uma grave lesão e deixou de jogar bastante cedo, profissionalizando-se no sector da cortiça. A falência da empresa onde trabalhava levou-o ao fundo de desemprego, acumulando neste momento o subsídio com o cargo não remunerado como treinador de juniores no Arrifanense.


Cau [médio-defensivo]

Treinador dos iniciados do oeiras

Estava no FC Porto por alturas do Mundial, mas acabou por fazer a carreira noutros emblemas, terminando no Salgueiros 08. Encontra-se há dois anos com os iniciados do Oeiras, função que reparte com a de funcionário de uma empresa de produtos farmacêuticos.


Abel Xavier [lateral-direito]

Radicado em Los Angeles, trabalha como actor

Passou por Itália, Alemanha, Espanha, Holanda, Inglaterra, Turquia e Estados Unidos. Terminou a carreira nos LA Galaxy, onde ainda mantém residência. Já largou o futebol, arriscando agora a carreira de actor. Converteu-se ao islamismo e mudou de nome para Faisal.


João Vieira Pinto [avançado]

Comentador desportivo

Nunca brilhou fora de portas, limitando-se a uma esporádica e traumatizante passagem pelo Atlético de Madrid. Hoje, vai dando a cara em várias campanhas publicitárias. É comentador e cronista na Imprensa, nomeadamente em O JOGO.


Jorge Costa [defesa-central]

Treinador do Cluj (Roménia)

Com uma brilhante carreira quase exclusivamente ligada ao FC Porto, tenta adquirir o mesmo nível como treinador. Após experiências bem sucedidas no Braga, Olhanense e Académica, terá esta época a primeira aventura internacional, ao serviço dos romenos do Cluj.


Brassard [guarda-redes]

Treinador da Federação

Tinha 29 anos quando uma grave lesão numa mão o levou a deixar de jogar e a encetar um processo com uma empresa de seguros para obter uma pensão vitalícia. Ganhou a causa e desde Junho de 2003 é treinador de guarda-redes das selecções nacionais.


Paulo Torres [lateral-esquerdo]

Trabalha em futebol na Guiné-Bissau

Teve uma longa carreira no Sporting e ainda em equipas espanholas. Como treinador, esteve em vários clubes da região centro. Emigrou para a Guiné-Bissau, onde participa em projectos de desenvolvimento do futebol jovem local.


Rui Bento [defesa-central]

Treinador do Beira-Mar

Depois de terminar a carreira de jogador, foi convidado pela FPF para treinar várias equipas das camadas jovens da Selecção. Na última época voltou a tentar a sorte na Liga, substituindo Leonardo Jardim no Beira-Mar.


Gil [avançado]

Empresário de jogadores

Jogou em clubes como Ovarense, Braga ou Estrela da Amadora, e depois fez carreira internacional nas divisões inferiores de Suíça e Inglaterra. Iniciou-se então como empresário, dividindo-se hoje entre os mercados angolano, português e britânico.


Peixe [médio-defensivo]

Seleccionador de Sub-17

Apesar de ter representado Sporting, FC Porto e Benfica, deixou de jogar aos 30 anos, então no Leiria. A convite da FPF, passou a ser treinador, ocupando neste momento o cargo de seleccionador de sub-17.


Figo [médio-ofensivo]

Embaixador do Inter

Venceu em 2001 o prémio da FIFA para melhor jogador do mundo, jogou no Barcelona, Real Madrid e Inter de Milão, onde exerce o cargo de "embaixador" internacional do clube.


Toni [ponta-de-lança]

Operário da construção civil

Passou por FC Porto, Salgueiros, Marítimo, entre outros. Nas duas últimas temporadas em Portugal, jogou no Vilanovense, emigrando para o Luxemburgo, onde alinhou pelo RM Hamm. Neste momento é operário da construção civil naquele país.